domingo, 7 de agosto de 2011

Devon

            A Sarah foi uma grande amiga para mim. Eu nunca vou esquecer toda a diversão que nós tivemos juntos. Eu lembro com felicidade de muitas das coisas que mais sinto e vou continuar sentindo falta, a respeito dela.
            Eu sinto falta de como ela me fazia rir das coisas mais bobas, como quando ela ficava sem graça de ter que interagir com as outras pessoas. Eu vou sentir falta de quando eu a via arrumada, já que 99% das vezes que eu encontrei com ela foram numa praia. Eu vou sentir falta, especialmente, de quando ela se arrumava para comer em uma lanchonete ou para ir ao jardim botânico, como se a gente estivesse indo em uma ópera, porque ela sabia que as próximas 100 vezes que a gente se visse, ela ia ter que estar usando chinelo de dedo, short e uma camiseta cheia de areia.
            Eu vou sentir falta de discutir com você coisas simples como livros e filmes e todas as coisas que acontecem neles e que dificilmente acontecem na vida real, como amigos de infância crescerem juntos e se casarem.
            Eu vou sentir falta de como você comia batata com sorvete, apesar de eu achar nojento. Eu vou sentir falta de como você apertava os olhos quando um caminhão ou um ônibus passava perto de você (eu sempre achei isso tão esquisito). Eu vou sentir falta das nossas discussões sobre tudo, especialmente sobre a vida um do outro. Eu vou sentir falta do seu rosto, do seu sorriso, dos seus olhos e de tudo que era tão maravilhoso pra mim.
            Mas, mais do que tudo, vou sentir falta da minha amiga, Sarah, que foi tão importante para mim. De tudo que experimentamos juntos, bom ou ruim, mas que nos fez tornar mais próximos. Você era linda, encantadora, engraçada e irritante, e eu vou sentir falta de tudo em você.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

"aknowledgements"

            Quando nós terminamos um evento, uma palestra, uma formatura, nós geralmente temos uma sessão de agradecimento às pessoas que tornaram aquele evento possível, que fizeram daquela noite ou daquele dia um sucesso. Eu gostaria de fazer uma sessão de agradecimentos para a pessoa que tornou da minha vida um sucesso. A minha melhor amiga e a pessoa que mais me influenciou ao longo da minha vida.
            Ela foi a pessoa que mais me ensinou. Me ensinou coisas que poucas pessoas que eu conheço entendem. Ela foi a pessoa que, até hoje, me faz perceber detalhes novos sobre a nossa jornada juntos. Uma jornada que pode ter sido longa ou curta dependendo dos olhos de quem vê.
            Desde que eu a conheci, ela me vigiou e cuidou de mim. Sempre que eu me sentia mal, ela levantava meu espírito e sempre que eu pegava chuva ela me olhava torto com aquele olhar de mãe coruja. Não importava se ela tinha pegado chuva também ou se a culpa não tivesse sido minha, ela sempre me repreendia pelo risco de ficar doente.
            Toda sexta ela me perguntava sobre os planos pra sábado e toda segunda ela me perguntava como tinha sido o domingo, mesmo quando nós passávamos o fim de semana todo juntos. Todos os dias pares, eu chegava na praia e encontrava ela sentada olhando o mar, e ela me contava histórias sobre o dia dela e sobre o que ela fazia e no que pensava ou o que planejava para o futuro.
            Ao longo dos anos, eu devo ter ouvido centenas de histórias desse tipo. As histórias da Sarah, histórias sobre uma filha exemplar, uma boa irmã e uma pessoa maravilhosa. Histórias que eu vou guardar e lembrar até o fim da vida e das quais eu sempre irei sentir falta.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

All we have

            Em um momento de perda, às vezes é difícil conseguir as palavras apropriadas. Desde a composição de um tributo até a hora de demonstrar o carinho pelos que perdemos, as palavras sempre acabam nos faltando.
            Ainda assim, existem coisas que nós podemos falar. Fatos, coisas que não precisam de um texto elaborado, não precisam de um discurso tocante e que nunca deixam de ser verdade. Eu gostaria de dizer algumas palavras sobre a Sarah:

            - Ela era uma boa pessoa, ela amava a vida, o mar e a música.
            - Ela era divertida e tinha aquele jeito que ainda me faz ter vontade de sorrir, mesmo depois de tanto tempo.
            - O sorriso dela era raro, mas lindo.
            - Ela não tinha um lado espiritual ou religioso, mas tinha valores fortes que ela conseguia passar pra qualquer um e que eu gostaria de conseguir passar para os outros também.

domingo, 10 de julho de 2011

As coisas que Sarah disse.

            Ela estava linda aquele dia. O cabelo estava longo e o rosto estava iluminado. Ela estava como no dia do aniversário de 15 anos.  Ela estava se despedindo do lugar em que havia nascido e passado os seus quase 16 anos; andando de um lado pro outro, tentando não expressar a tristeza inocente dela. Ela me deu um abraço e um “eu te amo”.

“Eu também te amo, por que você está tão triste?”
“É muito bonito aqui, eu não quero ir embora.”

domingo, 19 de junho de 2011

Férias

Lá fora, no então chamado "mundo real", para os olhos mal-acostumados, eu e Sarah éramos apenas bons amigos. Eu era o falante e ela era a calada e nós éramos apenas amigos como tantos outros, e em todos os meios oficiais e apropriados, assim permanecemos - do início ao fim.

Porém, neste mundo real, no território localizado muito mais próximo da verdade, nossos papéis na vida um do outro não eram tão facilmente definidos. Às vezes eu era um terapeuta e ela uma cliente, às vezes ela era uma professora, e eu um estudante, às vezes o contrário. Mas, na maioria das vezes, nós éramos companheiros de turma, e a nossa amizade era a professora.

Em alguns momentos após ela se mudar, eu sentia como se eu tivesse largado pra trás o meu país e minha vida, e não ela. E houve momentos após a morte dela em que eu é que parecia ter perdido a vida, e até hoje  não perco a sensação de que, assim como ela, eu tive que encarar a morte, mesmo que por outro ângulo,  pelo lado de fora. Talvez essa tenha sido a troca de experiência mais importante, de tantas outras, que tivemos. Mesmo após morrer, ela continua me ensinando como viver.

Conforme o "período de aulas" acabou, eu sentia cada vez mais saudades da minha amiga, da minha companheira, da minha estudante, professora e terapeuta. Dois dias antes da viagem dela, nós trocamos presentes. Livros. E tivemos nossa última aula, ou sessão, no portão do aeroporto. Eu me sentei perto dela, dividindo um fone de ouvido que acabou se tornando nossa maior forma de se conectar, depois que o assunto morria. Eu perguntei como ela se sentia, e ela simplesmente disse "triste", e sorriu (provavelmente o máximo que ela podia). Ela me lembrou que ainda tinha coisas dela comigo, e que eu tinha que devolver no ano seguinte, e sorriu um pouco mais do que antes. O vôo ia partir, nós nos beijamos e nos despedimos.

A idéia de ver a Sarah de novo era certa, mas após a morte dela, as coisas mudaram muito, até um certo ponto onde eu mesmo percebi o quanto eu tinha mudado com o acontecimento. Eu não sei dizer exatamente quando eu me dei conta disso, mas eu posso levar você para o lugar exato. No Jardim Botânico, uma epifania concisa: "eu mudei". Você pode dizer que para uma "epifania", não foi exatamente um clímax ou uma revelação, mas não importa. O trabalho estava feito e a lição estava aprendida. Eu sabia que, quando chegasse a hora, quando eu tivesse superado tudo e precisasse mudar de novo, eu poderia. Porque a Sarah havia me ensinado como.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Quatro anos depois

           Este domingo foi o aniversário de quatro anos da morte da Sarah. Eu mal posso acreditar que já passou tanto tempo, mas os calendários que mudaram e as estações que passaram me lembram de que é verdade. Eu, mais uma vez, me encontrei na pedra do Leme, ontem. Eu olhei para o mar, através das ondas e assisti o sol descendo por trás do horizonte, enquanto refletia sobre as pessoas que conheci e as coisas que aconteceram nestes 4 anos. Houve momentos de lágrimas derramadas e tantas memórias para se reviver e se abraçar. Houve felicidade, nas lembranças de sorrisos compartilhados, e um sentimento enorme de perda que parece nunca ir embora.
            Eu toquei a pedra, sem me tocar do que estava fazendo, e parecia quente, apesar do vento frio que que vinha da praia. Enquanto me voltava de novo para o mar, me lembrei de todas as centenas de dias que ela tinha passado ali, mas hoje não havia sinal da presença dela em lugar algum. Eu sentei sozinho, pensando nos dias em que eu nunca teria me imaginado nessa situação: ali, sozinho.
            Involuntariamente, eu me levanto e penso na saudade. Eu viro de costas para o mar, e começo a ir embora devagar, mas as minhas pernas parecem muito pesadas e com vontade de não sair dali. Eu continuo andando e o som do mar diminui e desaparece, eventualmente. Eu sinto a indecisão entre voltar correndo para lá ou voltar correndo para casa pra poder deitar. Por último, eu me pergunto se o próximo ano também será assim e o ano seguinte, enquanto uma mistura de memórias que dão vontade de sorrir e memórias que me enchem de tristeza me lembra que eu já sei a resposta.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Milagre pessoal

Este texto é sobre um acontecimento especial. Não um daqueles milagres que transformam a vida humana e sacodem a Terra, mas um acontecimento de significado especial para mim. Minha melhor amiga e primeira namorada, Sarah, morreu em 2007. Após o longo período de luto no qual eu não conseguia nem pensar e tive as piores notas da minha vida, eu comecei a separar as coisas que pertenciam a ela.
Eu lembro da camiseta que eu ainda guardo, já sem o cheiro do amaciante que ela usava, e que eu nunca deixei ninguém usar; mesmo quando amigas me visitavam e pediam uma camiseta emprestada para passar a noite.
Eu uso e carrego tudo que eu posso, mas a maioria das coisas que eu podia usar já quebrou ou algo do tipo. Eu sempre usava uma corrente de prata fina que ela havia me dado, mas após ela romper na rua pela segunda vez, parei de usar com medo de perder. Sendo assim, a maioria das poucas coisas que ainda tenho estão guardadas em uma caixa na cômoda, mas eu ainda esbarro com algum pertence dela quando arrumo minhas coisas, quando estou procurando algo e acabo esbarrando em uma memória.
Uma vez eu ouvi um rapaz que eu não conhecia muito bem (e que havia perdido a irmã em um acidente trágico) falar para a menina ao lado dele: “A gente se parece tanto que é como se eu tivesse uma irmã...”. Apesar de ele ter parado ao perceber a frase, eu entendo o que ele quis dizer. Nós podemos sustentar as memórias até certa relevância, mas chega sempre aquele momento em que precisamos abrir mão e procurar novas pessoas, e temos que aceitar que a pessoa que se foi não ocupa mais a posição que ocupava em nossa vida.
Isso me fez pensar em como eu nunca consegui chegar aonde esse rapaz havia chegado. Como eu nunca mais tive com alguém a mesma coisa que eu tive com a Sarah, nem de perto. Eu me lembrei de como eu vi os fogos de ano novo na praia de Copacabana com ela, no reveillon de 2006 para 2007 e 2004 para 2005. Os fogos, depois que estouravam, desciam e sumiam, mas as memórias nunca somem completamente, não é? Assim como a camiseta, já sem cheiro de amaciante, dobrada no meu armário.

sábado, 23 de abril de 2011

Um ano depois, três anos depois.

        Eu sempre ouvi em filmes, li em livros e escutei da boca dos outros coisas como "a noite que mudou minha vida", "um telefonema que mudou minha vida", mas eu nunca tinha imaginado como seria isso até então. E como poderia ser uma coisa tão impessoal. Não foi um telefonema ou uma conversa, foi o e-mail que mudou minha vida. Começou com uma explicação de como havia achado meu e-mail, uma desculpa pela falta de contato, e então veio a frase "Sarah didn't make it". Eu não li mais nada depois disso.
        Eu desliguei o monitor e saí de casa. Eu andei, chorando pela rua como nunca chorei antes, igual a uma criança que caiu no chão. Eu sempre pensei que se algo tão horrível acontecesse comigo eu nunca ficaria na posição tão esteriotipadamente retratada em filmes ganhadores de oscar de melhor drama. Mas lá estava eu, 10 minutos depois, sentado na areia da praia, chorando de frente pro mar, querendo poder voltar no tempo.
        Agora vamos avançar o filme para 1 ano depois, quando eu finalmente me permitia ouvir algumas músicas, como "Gostava tanto de você" e "Vento no litoral", pela primeira vez desde o "e-mail que mudou minha vida". Mesmo entendendo perfeitamente que eu não havia superado meus problemas emocionais, lá estava eu, ouvindo músicas que me lembravam ela, movido por uma necessidade que eu já não conseguia mais ignorar. Me permitindo compartilhar, com algumas pessoas, a experiência. Vendo meus amigos fazendo esforços para me deixar mais confortável, esforços sinceros e desnecessários.
        Vamos avançar o filme, desta vez mais de 2 anos, para o dia 21/04/2011, mais de 3 anos depois de tudo, enquanto eu pego um ônibus para o Jardim Botânico, um dos lugares mais significativos de toda a minha experiência com a Sarah. Para quando eu pegava um ônibus para um lugar onde eu jamais imaginei que eu iria com outra pessoa além da Sarah, depois que ela se foi. Um lugar para onde eu estava indo agora encontrar outras pessoas. Vamos avançar para quando eu estava sentado no ônibus, imaginando a Sarah ao meu lado, imaginando o que eu diria para ela, o que eu gostaria que ela soubesse sobre mim, sobre a minha vida... Percebendo o quanto eu sentia a falta dela, e o quanto eu estava preparado para seguir em frente.

terça-feira, 19 de abril de 2011

How sweet it is

         Eu ainda fico impressionado com acidentes de carro. A Sarah odiava carros, sempre que ela podia, ela se deslocava a pé. Ela religiosamente saía de casa e ia a pé para a praia toda tarde, usando sempre o mesmo tipo de roupa. Religiosamente seguia pra pedra do Leme depois das aulas e ficava lá, olhando para o mar, por horas, no seu lugar favorito: "vamos ficar de costas pros carros".
          A Sarah não via solidão nenhuma nesse 'ritual', que ela já fazia sozinha muito antes de eu me juntar a ela nas segundas, quartas e sextas, assim como continuava fazendo sem mim nas terças e quintas.
          Ela nunca tirava os dois fones de ouvido, sempre com um fone balançando solto para ouvir o professor durante a aula. Fone esse que voltava, imediatamente, para o ouvido assim que a aula terminava. A Sarah adorava o que ela chamava de "o silêncio da música", e esse "silêncio" parecia mais calmante do que qualquer outra coisa pra ela.
           Mesmo com um senso de solidão, a Sarah sempre tentava se aproximar de mim, e até o último momento em que eu pude, eu estive do lado dela. Até ela entrar pelo portão de embarque, eu estava com ela. Através dos meses no exterior, eu não sei se a Sarah continuou o ritual de "silencio musical", mas eu tenho certeza que ela devia estar sufocada sem o mar. E foi no dia 29 de maio de 2007 que o silêncio veio buscá-la, deixando em silêncio todos que a amavam.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Johnnie Walker - Keep Walking

A lembrança é a nossa maneira de se agarrar às coisas que amamos, às coisas que somos, às coisas que nunca queremos perder e já perdemos. As lembranças são a única coisa que nos dá a esperança ou a coragem para, quando estamos andando pelo pior caminho, simplesmente continuar andando.A tristeza da perda está por dentro, todas essas maneiras externas de lamento que se vê nos outros são apenas a sombra do luto que está em silêncio na lembrança. Uma sombra que todo humano tem, não a sombra do corpo, a sombra do espírito, uma sombra que cai contra o sol quando bem entende, às vezes curta em dias de luz, às vezes longa no escuro. Essa sombra é a sombra do luto, quem nunca viu essa sombra no encalço de um conhecido?

Eu espero que a lembrança continue e amadureça, que prospere, porque na lembrança está a primavera dos dias felizes, quando 'morte' e 'luto' eram apenas palavras que não faziam eco na minha memória.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Das coisas do quadro negro

De algumas coisas eu entendo. De como os vivos continuam vivendo. De como os mortos continuam vivendo com eles. De como, em uma floresta, até uma árvore morta cria sombras e despenca folhas, uma a uma. De como os galhos secos se quebram contra o vento e o cascalho descasca lentamente. De como o tronco trinca, invernos após a vida ter acabado. De como a água percola as rachaduras e o tronco cai no chão. De como o musgo o cobre e os coelhos o acham na primavera e fazem lá sua toca, e vivem, dentro da árvore morta.

De como nada que morre é desperdiçado na natureza, na vida ou no amor.

terça-feira, 15 de março de 2011

Uma visita inesperada.

Meu velho amigo Luto está de volta. Ele vem me visitar, de tempos em tempos para me lembrar de que eu ainda sou uma pessoa incompleta. É claro que houve alguma cura desde a última visita, mas eu ainda não consegui me ajustar a um mundo sem você. A verdade é que nunca existe uma cura completa, as pessoas nunca conseguem se ajustar à perda de alguém importante. Eu posso voltar a ficar bem um dia, mas nunca vou voltar a ser o mesmo.  
E, assim, meu velho amigo Luto passa por aqui para me dar bom dia. Às vezes ele entra por uma porta que eu mesmo abri, e as vezes me surpreende e entra sorrateiro por uma janela. Por uma música, por um cheiro ou por uma foto que me faz lembrar de como as coisas costumavam ser. Às vezes coloca um sorriso afetuoso no meu rosto, mas na maioria das vezes ainda bota uma lágrima de saudades.
Algumas pessoas tentam me convencer de que lembrar não é saudável, que não se deve estender em pensamentos que nos trazem tristeza. A verdade é o oposto. Luto revisitado é luto reconhecido, luto confrontado vai ser, futuramente, luto resolvido.
Mas se o luto está reconhecido e resolvido, por que ainda sentimos essa sensação profunda de perda, não apenas em aniversários e ocasiões do tipo, mas durante toda a vida e quando menos se espera? Por que continua aquele caroço na garganta, mesmo 3 anos depois de tudo? Porque curar não significa esquecer, seguir em frente não significa deixar nada para trás.
  Meu velho amigo Luto não quer atrapalhar a minha vida, na verdade ele só quer sentar e conversar de vez em quando. Meu velho amigo Luto me ensinou algumas coisas, através dos anos. Me ensinou que se eu tentar fugir da realidade por 3 anos, eu posso acabar sem um lugar para onde voltar. Me ensinou que tentar negar a perda de alguém em minha vida implica em negar a minha vida como um todo. Meu amigo Luto me ensinou que por mais que a dor da despedida seja grande, é algo que se deve experimentar de peito aberto ou correr o risco de paralisia emocional.
Meu velho amigo Luto também me ensinou que grandes perdas acontecem e que apesar de o mundo ser diferente após essas perdas, ainda é o meu mundo e a vida continua a ser vivida nele. Ele me ensinou que quando se olha para o passado, as pessoas se redescobrem não “apesar do passado” e sim “por causa do passado”.
  Hoje meu velho amigo Luto me ensinou que a perda de alguém amado não pode resultar na perda do amor. O amor é mais forte que a separação e mais longo que a permanência da morte. Meu velho amigo Luto salvou a minha vida, me ensinando tudo de mais importante que existe pra ser aprendido. Amor, vida, esperança e a longa jornada que se estende muito além do que se vê, se sente ou se perde durante os anos.

domingo, 6 de março de 2011

Jardim Botânico.

Hoje eu fui ao Jardim Botanico. Eu não tenho ido ao Leme ou ao Jardim Botânico com tanta freqüência... Eu acho que cada vez mais a nostalgia que eu sinto nesses lugares perde o sentido, não diminui, continua firme e forte, mas perde o sentido. Eu acho que vejo o Leme quase como um túmulo e esses textos como epitáfio. Mas não é no Leme e nem no seu túmulo de verdade que você está.
Pois bem, você não está “dormindo” nem “descansando”... Você não “está em lugar melhor”. Onde você está? Você está na minha estante de livros? Nas músicas do meu rádio? No vento com cheiro de maresia?
Eu lembro de muita coisa e eu não lembro de quase nada. Foram tantos dias, tantas horas juntos, que é impossível lembrar de tudo. Eu lembro de como você reclamava... Nossa, como você reclamava... Que eu sempre cheirava a café, que eu não conseguia falar olhando pros outros, que eu estava sempre reclamando... Como você reclamava... Como eu daria tudo pra ouvir essas reclamações de novo. É muito fácil lembrar das pessoas pelos grandes gestos, pelos discursos, pelas tardes memoráveis. Mas não é tão fácil se lembrar as coisas pequenas. Os detalhes adoráveis e as imperfeições perfeitas que fazem a pessoa ser que ela é. Eu acredito que é lembrar dessas coisas pequenas que mostram o quanto a gente se importava.
As coisas grandes, os momentos inesquecíveis, as festas, o primeiro beijo... Essas coisas enchem o peito de nostalgia. Mas são as coisas pequenas, as briguinhas, os risos, os milhares de tardes iguais e nada memoráveis olhando o mar sem dizer nada que enchem o peito de luto e da beleza que as coisas fundamentalmente tristes conseguem inspirar.
Em volta dos lugares onde a gente costumava ir junto ficou um buraco de saudades, que eu me vejo circundando nos dias normais e onde eu me vejo afundando nos dias de chuva.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Trânsito

Essa é a terceira vez essa semana que eu me pego andando pelos lugares que a gente frequentava junto, e parece que eu não consigo parar. Eu já até parei de tentar inventar desculpas de porque não consigo tirar você da cabeça, quando já faz tempo o suficiente para eu ter deixado o luto de lado. E eu tento, eu tento continuar em frente, me manter em movimento, mas eu não estou chegando a lugar nenhum.
Tem muita coisa para esquecer, muito do que eu lembro aparece com a chuva... E muito do que eu quero me faz imaginar a chuva... Caindo no telhado de uma casa que nós podíamos ter dividido, algum dia no futuro. E eu não sei apontar com precisão o momento em que fiquei desse jeito.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Overdose / Over-reaction

Eu não sei bem como botar algumas coisas em palavras... Eu costumo ser uma pessoa muito mais independente do que os outros e mesmo assim eu me sinto extremamente dependente quando penso em você. Eu queria que você visse o tipo de pessoa que eu me tornei nos últimos 3 anos, e percebesse como eu tento manter você viva em mim. Eu gosto de pensar que todo dia e toda noite as suas palavras vivem em algumas das minhas atitudes...
Como uma pessoa tão especial pode deixar o mundo sem ter um impacto gigante na vida de milhares de pessoas?
Alguns vão dizer "mas é claro que toda pessoa que se vai tem um impacto gigante nas pessoas a volta dela".
Mas bem, fora os seus 2 ou 3 amigos mais próximos e seus parentes de primeiro grau, este impacto não dura mais do que uma semana...
Hoje, mais do que nunca, eu sinto a sua falta. Eu queria que você estivesse aqui pra ver tudo o que eu consegui... Eu vou me formar em 2 anos e não consigo pensar em mais um momento tão importante da minha vida sem você. Deus sabe que eu daria qualquer coisa por mais uma noite juntos.
Todo mundo diz que eu devia começar a superar o passado, como se eu não soubesse disso, mas toda vez que eu tento fazer isso por mais de 2 semanas, alguma coisa em mim diz "quem você tá querendo enganar, ainda é o toque dela no seu celular e ainda é o livro dela na sua estante." E a verdade é que eu não deixaria meu passado pra trás nem se eu soubesse como. Eu sei muito bem que por mais que seja triste lembrar de você, é isso que eu quero fazer pra sempre. Não são os gigas e mais gigas de músicas e filmes tristes no meu computador que me fazem ficar nostálgico, é você... Ah, logo você que prometeu que nunca ia me deixar triste, não é? Onde estão as promessas agora, Dona Sarah?

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Brinde de despedida

Eu te amei... Eu ainda te amo, mas mais importante que isso é "eu te amei"... Amar depende de alguém ali com você pra ser forte de verdade. Amar não é um verbo intransitivo, como Mário de Andrade tentou nos convencer. Eu te amei... E não do jeito como eu amei meus verdadeiros amigos (embora você tenha sido um deles) e não como o amor que os outros vêm.
Você foi o resumo de todas as qualidades que eu me vejo procurando hoje em dia nas pessoas que me cercam... Eu acho que você não acreditaria em como eu mudei, mas eu gostaria de dizer algumas palavras sobre uma amiga minha... Ela se chamava Sarah.
A Sarah foi minha amiga, e isso por si só já é uma coisa imensa pra mim. Talvez me ajudando, você estivesse fazendo alguma coisa por você também, mas isso não me torna menos grato por tudo. A gente não vai mais voltar junto até o Leme e enrolar para ir pra casa vendo o mar. Eu queria parar de pensar com pesar em tudo que você foi pra mim e não pode mais ser e começar a pensar com alegria que pelo menos eu tive a sorte de você ter sido, tudo isso, em algum momento.
Eu acho que nada na vida é mais triste do que encontrar alguém que significa muito para você e no final descobrir que não era pra acontecer e se ver obrigado a esquecer que aconteceu. E não é verdade que as pessoas só sentem falta das coisas que perdem... Eu por muito tempo senti uma falta imensa de coisas que eu nem sabia que existiam, até você aparecer.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Brinde de casamento

A noite que eu te conheci pode ter sido, talvez, a noite mais espetacular da minha vida. Eu gostaria de te agradecer, por algumas coisas... Eu poderia dizer que meu sonho na vida era ser rico ou ser um grande geólogo um dia... Mas na verdade, meu sonho era ser só mais parecido com você. E não é porque você sabia tudo sobre geologia, sobre medicina ou sobre arte... É porque você sabia tudo sobre como viver melhor, e que sabedoria era mais importante do que a sua?
Você tentou me ensinar a tomar toda oportunidade que eu tivesse, e a tentar fazer de todas as pequenas coisas do nosso dia a dia uma coisa especial... Você tentou me convencer de que não importava o que os outros pensavam, eu devia simplesmente fazer o que quer que fosse que me deixasse mais feliz. É uma pena que eu não tenha aprendido tão bem quanto devia. Você tentava me dizer como eu não devia trabalhar por trabalhar e sim trabalhar para conseguir a vida que eu queria ter no futuro.
Eu não sei até que ponto eu caminhei com você, mas eu queria ter seguido mais as suas pegadas. Se obrigado pudesse resumir uma vida inteira de ensinamento, de dedicação e de amor, eu te agradeceria.
Eu sei que infelizmente minha memória não é boa o suficiente pra lembrar de toda a felicidade que você me deu ao longo da sua vida... Mas eu lembro de coisa o suficiente pra saber que eu pretendo viver o resto da minha vida lembrando de você, e sei que minha memória é boa o suficiente para guardar pra sempre a noite que te conheci.
Eu não quero nem lembrar da vida antes de você. Eu me cerco de coisas que te lembram pra não esquecer nem um centímetro de você. você tá na minha música favorita, no meu filme favorito, no meu livro favorito, na minha comida favorita, na minha bebida favorita, na minha hora favorita do dia, meu lugar favorito e em tudo que eu escrevo, desenho ou toco.