terça-feira, 19 de abril de 2011

How sweet it is

         Eu ainda fico impressionado com acidentes de carro. A Sarah odiava carros, sempre que ela podia, ela se deslocava a pé. Ela religiosamente saía de casa e ia a pé para a praia toda tarde, usando sempre o mesmo tipo de roupa. Religiosamente seguia pra pedra do Leme depois das aulas e ficava lá, olhando para o mar, por horas, no seu lugar favorito: "vamos ficar de costas pros carros".
          A Sarah não via solidão nenhuma nesse 'ritual', que ela já fazia sozinha muito antes de eu me juntar a ela nas segundas, quartas e sextas, assim como continuava fazendo sem mim nas terças e quintas.
          Ela nunca tirava os dois fones de ouvido, sempre com um fone balançando solto para ouvir o professor durante a aula. Fone esse que voltava, imediatamente, para o ouvido assim que a aula terminava. A Sarah adorava o que ela chamava de "o silêncio da música", e esse "silêncio" parecia mais calmante do que qualquer outra coisa pra ela.
           Mesmo com um senso de solidão, a Sarah sempre tentava se aproximar de mim, e até o último momento em que eu pude, eu estive do lado dela. Até ela entrar pelo portão de embarque, eu estava com ela. Através dos meses no exterior, eu não sei se a Sarah continuou o ritual de "silencio musical", mas eu tenho certeza que ela devia estar sufocada sem o mar. E foi no dia 29 de maio de 2007 que o silêncio veio buscá-la, deixando em silêncio todos que a amavam.

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