sexta-feira, 13 de maio de 2011

Milagre pessoal

Este texto é sobre um acontecimento especial. Não um daqueles milagres que transformam a vida humana e sacodem a Terra, mas um acontecimento de significado especial para mim. Minha melhor amiga e primeira namorada, Sarah, morreu em 2007. Após o longo período de luto no qual eu não conseguia nem pensar e tive as piores notas da minha vida, eu comecei a separar as coisas que pertenciam a ela.
Eu lembro da camiseta que eu ainda guardo, já sem o cheiro do amaciante que ela usava, e que eu nunca deixei ninguém usar; mesmo quando amigas me visitavam e pediam uma camiseta emprestada para passar a noite.
Eu uso e carrego tudo que eu posso, mas a maioria das coisas que eu podia usar já quebrou ou algo do tipo. Eu sempre usava uma corrente de prata fina que ela havia me dado, mas após ela romper na rua pela segunda vez, parei de usar com medo de perder. Sendo assim, a maioria das poucas coisas que ainda tenho estão guardadas em uma caixa na cômoda, mas eu ainda esbarro com algum pertence dela quando arrumo minhas coisas, quando estou procurando algo e acabo esbarrando em uma memória.
Uma vez eu ouvi um rapaz que eu não conhecia muito bem (e que havia perdido a irmã em um acidente trágico) falar para a menina ao lado dele: “A gente se parece tanto que é como se eu tivesse uma irmã...”. Apesar de ele ter parado ao perceber a frase, eu entendo o que ele quis dizer. Nós podemos sustentar as memórias até certa relevância, mas chega sempre aquele momento em que precisamos abrir mão e procurar novas pessoas, e temos que aceitar que a pessoa que se foi não ocupa mais a posição que ocupava em nossa vida.
Isso me fez pensar em como eu nunca consegui chegar aonde esse rapaz havia chegado. Como eu nunca mais tive com alguém a mesma coisa que eu tive com a Sarah, nem de perto. Eu me lembrei de como eu vi os fogos de ano novo na praia de Copacabana com ela, no reveillon de 2006 para 2007 e 2004 para 2005. Os fogos, depois que estouravam, desciam e sumiam, mas as memórias nunca somem completamente, não é? Assim como a camiseta, já sem cheiro de amaciante, dobrada no meu armário.

Um comentário:

  1. Não perdi o meu amado, ele vive graças a Deus. E apesar de viver eu não o tenho, nem mesmo o pouco que um dia eu tive tenho mais. Mas quero lhe dizer que de fato certos sentimentos são únicos e subjetivos, então parabéns a você que pode exprimir os seus em palavras, que sente, com ardência e que se permite sentir seja uma alegria ou tristeza, eu tenho blog também, que fala muito sobre sentimento depois se quiser fazer uma visitinha segue abaixo o link.
    http://arrepioscullen.blogspot.com/

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